PARABÉNS, MADONNA!
“Talvez ela seja tão odiada por ainda ser
relevante e fazer sucesso após 30 anos de carreira, sobrevivendo às pancadas do
próprio público, da indústria fonográfica, da imprensa e do preconceito com a
idade. E, principalmente, por ser uma mulher bem sucedida.”
Por Elenilson Nascimento
Hoje, 16/08, Madonna completa 59 anos de
idade e mais de 30 anos nas paradas de sucesso e na minha vida! Ontem, em casa,
toquei o seu histórico disco “Like A Prayer”, lançado em 1989. E de pensar que
ela sempe foi uma recolucionária e de todas as piadinhas ordinárias que eu
sempre ouvi durante a minha vida inteira por gostar tanto de uma “puta”. Mas
que estrela de primeira grandeza ela se tornou! Se tivesse sido chamada para o
cinema em vez da música pop boa que sempre fez, talvez teria sido engolida pelo
sistema.
Muitos fãs de
música pop e modenidades descartáveis das rádios FM de hoje ainda continuam
pensando que o gênero tem uma década de idade ou até menos, que foi magicamente
trazido ao mundo por algum tipo de divindade musical, tipo Gagas, Britneys,
Arianas, Keshas, Beyoncés, Lordes, Adeles e afins, que pariram todo um estilo
de música pop dançante e colorido nestes anos 2000, com vídeos espalhafatosos
no Youtube (*gostava mais da MTV) e centenas de discos que parecem serem o mais
do mesmo.
Esses mesmos fãs com informações retiradas de redes sociais massacram Madonna
de todas as maneiras possíveis: alguns acham que ela já está velha demais, que
não faz mais sucesso porque perdeu a ambição, que menospreza os outros gêneros
ou porque simplesmente vive dos anos 80. Ou no fim das contas, simplesmente a
acham uma puta ridícula, alguém que poderia simplesmente cair no esquecimento.
Ledo engano. Madonna sempre foi atual, aliás, revolucionária! Mas essa gente
sem cor e que ignora e despreza alguém que foi capaz de transformar o cenário
da música, abordar assuntos que a
sociedade ainda quer esconder, levantar a bandeira gay, bater de frente com a
Igreja ("Devil Pray" e "Like a Prayer"), simular sexo no
palco (“Like A Virgin”) para falar de liberdade, entrar na Cabala, sair da
Cabala, adotar crianças pretas, abordar a AIDS ("In This Life"), o
mundo dos sonhos ("Bedtime Story"), família ("Inside Of Me”,
“Keep It Together”, "Oh Father", "Promise to Try") e claro,
crítica social de verdade e na cara ("Swim", "American
Life", "Hollywood", "Give Me All Your Luvin’"), não
temendo governo, indústria fonográfica ou o próprio Vaticano, além de sempre
abordar o amor, solidão, ciúme, vontade de dançar e se divertir, além de sexo,
claro. Mas muito além do lugar comum, vale ressaltar. Madonna fez muito mais do
que todas as estrelinhas do pop de hoje conseguiriam e que as suas estreitas
mentes de Facebook podem imaginar.
Você
provavelmente deve ter adorado quando a Katy Perry lançou o vídeo com a Gretchen, todo filmado em Salvador, não é mesmo? Se
for daqueles fãs mais doentes, deve deixar o vídeo no repeat para gerar
visualizações. Acertei? Mas espero que esteja ciente que foi Madonna uma das
responsáveis por tornar os videoclipes musicais obras complexas, caras e
artísticas. Até o comecinho da década de 80, os chamados clipes nada mais eram
que vídeos dos artistas cantando ao vivo. E só! Vendo o potencial que esse
formato tinha, Madonna começou a investir nesse formato, sendo "Like A
Virgin" (1985) um dos primeiros videoclipes no formato atual, praticamente
inaugurando a MTV.
Lembram da
Madonna saindo de cima de um bolo e rolando no palco cantando “Like A Virgin”? Pois ela foi chamada de puta
pra baixo só por causa disso! Mas não parou por aí, ao longo de sua carreira,
com vídeos antológicos, como “Papa Don't Preach” e “La Isla Bonita” (1986),
“Like A Prayer”, “Express Youself” e “Cherish” (1989), “Vogue” (1990), “Justify
My Love” (1991), “Erotica” (1992), "American Life" (2003), “Ray Of
Light” e “Frozen” (1998), “Ghosttown” (2015) e “Bedtime Story” (1994), sendo
que este último incluso no acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Nova
York (MoMA). Ou seja, 1000 entre 1000 cantoras do pop são visceralmente
influenciadas pela única Rainha, que é simplesmente o útero que gerou a música
pop como a conhecemos.
Até a década de 80, os grandes artistas tinham shows simples, compostos apenas
por cantor, banda e quando muito um par de dançarinos. Mas desde a primeira
turnê, em 1985, Madonna já mostrava para que estava ali nos palcos. Contudo,
foi mesmo no ano de 1990, que ela transformou o cenário das produções de shows
com a sua “Blond Ambition Tour” e inaugurou a era de concertos extravagantes,
com muitos dançarinos, efeitos especiais e trocas de roupa. E esses são apenas
alguns bons motivos pelos quais Madonna é um verdadeiro monumento da história
da música. Talvez ela seja tão odiada por ainda ser relevante e fazer sucesso
após 30 anos de carreira, sobrevivendo às pancadas do próprio público, da
indústria fonográfica, da imprensa e do preconceito com a idade. E,
principalmente, por ser uma mulher bem sucedida.
Ninguém é obrigado a gostar de Madonna, com também não é obrigado a gostar de
livros, da cor azul, de chocolate, de ficar nu em casa, mas esse não é um texto
baseado em gostos, e sim em fatos. Sua última turnê, “Rebel Heart Tour” (2017),
por exemplo, nem chegou a ser cogitada para vir ao Brasil mas foi sim negociada
pela Time For Fun e a equipe da cantora, porém já sabemos que a T4f é
problemática. Todas as turnês de artistas internacionais que essa empresa
organiza no Brasil acontece algum tipo de barraco. Uma fonte que trabalha na
vinda do U2 para o Brasil ainda este ano me contou que o nome de Madonna, que
antes aparecia no planejamento para o Rock In Rio, sumiu do mapa. E os motivos
são, como quase tudo nesse segmento, de ordem econômica. Primeiro porque
Madonna custa caro para um país no esgoto econômico e com um governo pifío como
o Brasil. Para o organizador do show, porque precisa trazer o show completo —
ela faz questão de apresentar aqui tudo igualzinho, tintim por tintim. E isso
encarece a operação e, consequentemente, o preço dos ingressos tende a subir.
Numa fase em que o Brasil vai mal das pernas economicamente, o risco de os
ingressos encalhar aumenta exponencialmente. Como o tempo que vivemos é das
vacas magras, arranjar patrocinadores também anda complicado. Nossa fonte
informou também que nem mesmo uma gigantesca cervejaria aceitou botar dinheiro
na jogada. Até nos Estados Unidos as vendas de ingressos não foram nenhuma
maravilha. Pensando nisso, a equipe de Madonna deu uma mexida na agenda
internacional e colocou como prioridade locais aos quais a artista não ia há
muito tempo. A Austrália, por exemplo, que não tem turnês dela desde 1993.
Contudo, nós já tivemos Madonna por aqui em 1993, 2008 e em 2012, mas como fã,
torço para que tudo isso mude e a gente tenha chance de vê-la por aqui novamente
falando “bunda suja”. Mas a perspectiva atual, infelizmente, não é das mais
animadoras. A T4f não quis se pronunciar a respeito. Afirmou apenas que jamais
houve confirmação de que Madonna viria ao Brasil com a turnê e nem para o Rock
In Rio.
E mesmo odiando a única Rainha do Pop,
você é obrigado a reconhecer seu pioneirismo, atitude, ousadia e seu impacto,
afinal, o pop como você conhece hoje simplesmente não existiria sem ela. Por
essa razão e por outras mais, Madonna está no mesmo patamar de Elvis,
Michael Jackson, Beatles, Stones, Sting, George Michael, U2, Prince, Bowie e Whitney Houston: não apenas
grandes e rentáveis artistas, mas ferramentas de reconstrução do pop e parte
fundamental da história da música. E como impedir que os seus poemas de amor
virem cartões fúnebres? Como evitar que a AIDS, por exemplo, que Madonna sempre
alertou, continue sendo tratada como uma coisa patética e controlável. Ledo
engano! Mas dessa vez,
não espere que ela morra para valorizá-la. Salve Madonna!
* Elenilson Nascimento é jornalista,
blogueiro, autor de “Clandestinos”, “Memórias de um Herege Compulsivo”, “Poemas
Perversos Para Cartas de Amor” e outros, além de fã de Madonna. Contato:
https://www.facebook.com/elenilson.nascimento.33
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