The Celebration Tour está a todo vapor e o HOLIDAY SHARE está convidando amigos especiais para compartilharem suas experiências ao assistirem a tour, hoje começamos com essa resenha incrível de Ronaldo Alexandrino com fotos e vídeos exclusivas para o blog.
The
Celebration Tour: minhas impressões
num contexto lisboeta...
por Ronaldo Alexandrino
Quando o Inco me procurou
para escrever um relato para o Holiday Share estava em Lisboa, ainda não havia
assistido aos shows e minha cabeça, como sempre, começou a borbulhar sobre a
forma que escreveria o texto, afinal, não sou especialista nem crítico de arte
e naquele momento era apenas como um fã que se deslocava para ver sua artista
preferida mais uma vez.
Aceitei a proposta, mas não fazia
ideia de como executá-la. Ainda em Lisboa, um amigo em algum momento me disse,
sinta primeiro, digere depois. Por isso escrevo apenas agora, 11 dias após o
último dos dois shows.
Assim, mais do que um review, que
por sinal já foi muito feito pela imprensa e fãs mundialmente, aqui narrarei
minhas impressões. Selecionarei alguns recortes que mais me afetaram, sem o
intuito de descrever o show do seu início ao fim.
Assisti os concertos nos dias 06 e
07 de novembro em lugares diferentes. No dia 06 estava na grade, na frente do
primeiro palco após a passarela, o que me garantiu uma visão privilegiada do
show e entender suas nuances e proposituras. No dia 07 novamente na grade, mas
na frente do palco principal, o que me permitiu ver Madonna, para além do show.
A Celebration Tour para mim
é um dos melhores shows já feitos por Madonna, por uma simples razão, além de
ser uma comemoração dos seus 40 anos de carreira ela se protagonizou durante
todo o espetáculo, era sobre ela.
Mesmo com a divisão por blocos,
cada um contendo uma mensagem para o público, o foco principal do show era o
modo como ela, artista, mulher e mãe se relacionava com cada um deles. Ela nos
deu o que sempre queríamos: um show de Madonna sobre Madonna; e com um detalhe,
a maioria das canções estava em suas versões originais, sem releituras. Ela
mostrou ao mundo que não precisa mais se reinventar para ser a rainha do pop de
todos os tempos!
O amor permeia todo o show, desde
sua abertura com Nothing really matters, que é de uma grandeza e
magnitude que nos deixa boquiabertos, mas o recado está dado, tudo o que verão
aqui é o retorno daquilo que eu mesma fiz a mim: o que fazemos com amor, nos
volta.
As primeiras canções remetem ao início
da carreira em New York, suas dificuldades em entrar nas casas noturnas,
Basquiat estava no palco... e somos todos levados a uma pista de dança dos anos
oitenta. O primeiro diálogo com a plateia vem, e sua persona dos anos 80, com
máscara de látex aparece, Madonna se mostra feliz e orgulhosa da garota
oitentista que a levou até o palco da Celebration Tour. É curioso
perceber que em todos os diálogos desse momento do show é narrado algum
perrengue que viveu, como blowjobs for shower, por exemplo. Ela afirma
que tem consciência de onde veio e reconhece a importância do lugar em que
chegou como artista, afirmando que naquele início jamais ousaria pensar que o
vivido hoje seria possível.
Na performance do Open your
heart, a cadeira como elemento cênico aparece. Objeto esse tão simbólico
como uma de suas marcas nos anos oitenta, tanto quanto os braceletes e colares
em forma de cruz, simbologias essas tão importantes na criação de um mito.
Ao término de Holiday o
clima festivo perde espaço para uma escuridão, bailarinos começam a morrer em
cena e vagarosamente vão sumindo... Madonna fica sozinha... O advento da Aids
apaga o brilho da cena... o tom é dado quando ela canta um trecho de In this
life antes da apoteótica Live to tell.
Impossível não chorar (inclusive
choro agora enquanto escrevo). Os telões são o ponto chave nesse momento e as
figuras que ali aparecem respeitam uma ordem de afeto por ela vivenciada:
Martin Burgoyne, Chistopher Flinn e Keith Haring, os melhores amigos e seu
professor de dança que disse a ela que ela tinha um brilho diferente (ela
sempre se emociona nessas telas); na sequencia artistas como Freddy Mercury e o
bailarino da sua Blond Ambition Tour Gabriel Trupin, passando por uma
sequência de ativistas e pessoas comuns, as imagens das projeções são advindas
de uma parceria com o The Aids Memorial.
Os telões apenas confirmam seu
discurso profético na The Girlie Show, de 1993, “todos que estão aqui
essa noite conhecem ou conhecerão alguém que morrerá de Aids”. Madonna está
dizendo que a história que ela tem a contar é sobre a dor da perda, de um vírus
que inicialmente aniquilou a comunidade LGBTQIA+ e que até hoje ainda sofre os
estigmas desse momento histórico... e o mais importante, essa dor é também dela!
O que vem a seguir é Like a
prayer, com trechos de Act of contriction (e a versão de like a
prayer ao contrário), Girl gone wild e Unholy de Sam Smith, usada
como um link para a sessão anterior. A crítica está feita: o que faz a igreja
em relação aos corpos docilizados? Afinal é um carrossel sacro de corpos
enclausurados que abre esse momento do show, embalados por uma versão demoníaca
de like a prayer e excertos de um cantor gay.
Como de praxe no universo
madonnico, igreja, amor e sexo não se disassociam. A sequência de canções
retomam os boxeadores da The Girlie Show e Stick and Sweet Tour
num clima que nos deixa excitados de alguma maneira em nossos lugares.
A beleza desse momento é vê-la de
camisola. Ela não escondeu os 65 anos de idade dessa vez. Madonna aparece segura
e despida de si, madura, com os braços balançando, sem esconder a mão
envelhecida ou a flacidez da pele do seu colo... e está deslumbrante!
A sequência é de um impacto
gigantesco para quem, como eu, ama a Blond Ambition Tour. A cama
vermelha surge em cena com a persona de látex simulando a famosa cena da
masturbação. A jovem Madonna encontra a atual. Elas fazem um trecho da
coreografia de Papa don’t preach dos anos 90, Madonna está dizendo:
mesmo aos 65 anos ainda me dão sermão? Elas se encoxam, sentadas, a jovem
Madonna masturba a atual. É como se uma dissesse a outra: eu abri os caminhos
nos anos 90, inclusive para você hoje... Seja uma mulher de 65 anos que ao
subir num palco de camisola não tem medo de expor seus desejos!
O próximo momento é o que tenho
chamado de bloco família! Lembrei-me de um documentário dos anos 90, Madonna
Exposed, em que perguntavam como seria a Madonna nos anos 2000 e ninguém
naquele momento a previu como mãe. As próximas canções têm as filhas Mercy no
piano, Estere voguing e Stella dançando em Don’t Tell me. Em alguns
shows Lourdes e Rocco participaram de Vogue também.
Porém, o que mais me afetou foi a
performance de Mother and Father. Ela e David Banda em cena, ele tocando
e fazendo backing vocal para ela. As mães de ambos morreram quando eram
crianças e estavam projetadas ao fundo. As relações tumultuadas com os pais
também estavam no telão. Ao término da música eles se abraçam. É como se
Madonna dissesse à ele: vivemos histórias parecidas nessa vida, mas eu serei
pra você a mãe que eu nunca tive! Impossível não chorar ao entender essa
relação que visivelmente é tão sincera entre eles!
I will survive é cantada no show! Apesar de ser
conhecida como um hino LGBTQIA+ ela foi apresentada com toda a carga dramática
de sua letra. Madonna dizia, antes de entoar a canção que só sobreviveu a morte
(devido a uma infecção meses atrás) graças à seus filhos. Eu nunca curti ouvir
I will survive em baladas, sempre me retirei da pista. A letra não é alegre,
não é festiva, afinal é sobre seguir adiante apesar da dor e sofrimento.
Madonna trouxe a interpretação que sempre esperei dessa música e nunca havia
escutado.
Logo após, em Lisboa, ela cantou Sodade,
de Cesária Évora, em homenagem ao país em agradecimento por tudo o que ali
viveu enquanto morou em Lisboa.
O show começa a caminhar para
final. Bedtime Story, Ray of light e Rain apenas mostram
que Madonna está entregando aos fãs aquilo que sempre pedimos! Ela em seu
estado máximo com as canções que tanto gostamos. E se Rain em sua letra
é uma metáfora à ejaculação, ela está ali inundando a arena daquilo que mais
desejamos: ela própria. Esse trecho é puro gozo!
Mas antes do fim, a projeção dela e
Michael Jackson, ao som de Like a Virgin e Billie Jean surge
repentinamente. Esse momento não foi, para mim, apenas uma singela homenagem ao
cantor. Madonna está coroando ali, publicamente, os verdadeiros rei e rainha do
pop de todos os tempos. Ela marcou seu território!
Dito isso, ela se afirma com Bitch
I’m Madonna e finaliza o espetáculo com Celebration!
Ao olhar para o show percebemos que
tudo está ali! Todas as referências estão postas! Seria impossível abarcar 40
anos de carreira em um show de duas horas, mas de alguma maneira elas aparecem,
seja num pequeno trecho, ou numa imagem de telão.
Saio da Celebration Tour
entendendo que o legado de Madonna é sobre o amor! Esteja com aqueles que você
ama! Lute por eles! Valorize cada momento! A vida é breve e enquanto aqui
estamos, celebremos juntos!
E que venha a próxima tour!
Vida longa a rainha!
Ps. Algum defeito? Sim! Cadê o
Tourbook? Hahahaha!