terça-feira, 5 de dezembro de 2023

The Celebration Tour: minhas impressões num contexto lisboeta ... por Ronaldo Alexandrino



The Celebration Tour está a todo vapor e o HOLIDAY SHARE está convidando amigos especiais para compartilharem suas experiências ao assistirem a tour, hoje começamos com essa resenha incrível de Ronaldo Alexandrino com fotos e vídeos exclusivas para o blog.

The Celebration Tour: minhas impressões 

num contexto lisboeta...

por Ronaldo Alexandrino



Quando o Inco me procurou para escrever um relato para o Holiday Share estava em Lisboa, ainda não havia assistido aos shows e minha cabeça, como sempre, começou a borbulhar sobre a forma que escreveria o texto, afinal, não sou especialista nem crítico de arte e naquele momento era apenas como um fã que se deslocava para ver sua artista preferida mais uma vez.

Aceitei a proposta, mas não fazia ideia de como executá-la. Ainda em Lisboa, um amigo em algum momento me disse, sinta primeiro, digere depois. Por isso escrevo apenas agora, 11 dias após o último dos dois shows.

Assim, mais do que um review, que por sinal já foi muito feito pela imprensa e fãs mundialmente, aqui narrarei minhas impressões. Selecionarei alguns recortes que mais me afetaram, sem o intuito de descrever o show do seu início ao fim.

Assisti os concertos nos dias 06 e 07 de novembro em lugares diferentes. No dia 06 estava na grade, na frente do primeiro palco após a passarela, o que me garantiu uma visão privilegiada do show e entender suas nuances e proposituras. No dia 07 novamente na grade, mas na frente do palco principal, o que me permitiu ver Madonna, para além do show.

A Celebration Tour para mim é um dos melhores shows já feitos por Madonna, por uma simples razão, além de ser uma comemoração dos seus 40 anos de carreira ela se protagonizou durante todo o espetáculo, era sobre ela.

Mesmo com a divisão por blocos, cada um contendo uma mensagem para o público, o foco principal do show era o modo como ela, artista, mulher e mãe se relacionava com cada um deles. Ela nos deu o que sempre queríamos: um show de Madonna sobre Madonna; e com um detalhe, a maioria das canções estava em suas versões originais, sem releituras. Ela mostrou ao mundo que não precisa mais se reinventar para ser a rainha do pop de todos os tempos!

O amor permeia todo o show, desde sua abertura com Nothing really matters, que é de uma grandeza e magnitude que nos deixa boquiabertos, mas o recado está dado, tudo o que verão aqui é o retorno daquilo que eu mesma fiz a mim: o que fazemos com amor, nos volta.

As primeiras canções remetem ao início da carreira em New York, suas dificuldades em entrar nas casas noturnas, Basquiat estava no palco... e somos todos levados a uma pista de dança dos anos oitenta. O primeiro diálogo com a plateia vem, e sua persona dos anos 80, com máscara de látex aparece, Madonna se mostra feliz e orgulhosa da garota oitentista que a levou até o palco da Celebration Tour. É curioso perceber que em todos os diálogos desse momento do show é narrado algum perrengue que viveu, como blowjobs for shower, por exemplo. Ela afirma que tem consciência de onde veio e reconhece a importância do lugar em que chegou como artista, afirmando que naquele início jamais ousaria pensar que o vivido hoje seria possível.

Na performance do Open your heart, a cadeira como elemento cênico aparece. Objeto esse tão simbólico como uma de suas marcas nos anos oitenta, tanto quanto os braceletes e colares em forma de cruz, simbologias essas tão importantes na criação de um mito.

Ao término de Holiday o clima festivo perde espaço para uma escuridão, bailarinos começam a morrer em cena e vagarosamente vão sumindo... Madonna fica sozinha... O advento da Aids apaga o brilho da cena... o tom é dado quando ela canta um trecho de In this life antes da apoteótica Live to tell.

Impossível não chorar (inclusive choro agora enquanto escrevo). Os telões são o ponto chave nesse momento e as figuras que ali aparecem respeitam uma ordem de afeto por ela vivenciada: Martin Burgoyne, Chistopher Flinn e Keith Haring, os melhores amigos e seu professor de dança que disse a ela que ela tinha um brilho diferente (ela sempre se emociona nessas telas); na sequencia artistas como Freddy Mercury e o bailarino da sua Blond Ambition Tour Gabriel Trupin, passando por uma sequência de ativistas e pessoas comuns, as imagens das projeções são advindas de uma parceria com o The Aids Memorial.


Os telões apenas confirmam seu discurso profético na The Girlie Show, de 1993, “todos que estão aqui essa noite conhecem ou conhecerão alguém que morrerá de Aids”. Madonna está dizendo que a história que ela tem a contar é sobre a dor da perda, de um vírus que inicialmente aniquilou a comunidade LGBTQIA+ e que até hoje ainda sofre os estigmas desse momento histórico... e o mais importante, essa dor é também dela!

O que vem a seguir é Like a prayer, com trechos de Act of contriction (e a versão de like a prayer ao contrário), Girl gone wild e Unholy de Sam Smith, usada como um link para a sessão anterior. A crítica está feita: o que faz a igreja em relação aos corpos docilizados? Afinal é um carrossel sacro de corpos enclausurados que abre esse momento do show, embalados por uma versão demoníaca de like a prayer e excertos de um cantor gay.

Como de praxe no universo madonnico, igreja, amor e sexo não se disassociam. A sequência de canções retomam os boxeadores da The Girlie Show e Stick and Sweet Tour num clima que nos deixa excitados de alguma maneira em nossos lugares.

A beleza desse momento é vê-la de camisola. Ela não escondeu os 65 anos de idade dessa vez. Madonna aparece segura e despida de si, madura, com os braços balançando, sem esconder a mão envelhecida ou a flacidez da pele do seu colo... e está deslumbrante!



A sequência é de um impacto gigantesco para quem, como eu, ama a Blond Ambition Tour. A cama vermelha surge em cena com a persona de látex simulando a famosa cena da masturbação. A jovem Madonna encontra a atual. Elas fazem um trecho da coreografia de Papa don’t preach dos anos 90, Madonna está dizendo: mesmo aos 65 anos ainda me dão sermão? Elas se encoxam, sentadas, a jovem Madonna masturba a atual. É como se uma dissesse a outra: eu abri os caminhos nos anos 90, inclusive para você hoje... Seja uma mulher de 65 anos que ao subir num palco de camisola não tem medo de expor seus desejos!

O próximo momento é o que tenho chamado de bloco família! Lembrei-me de um documentário dos anos 90, Madonna Exposed, em que perguntavam como seria a Madonna nos anos 2000 e ninguém naquele momento a previu como mãe. As próximas canções têm as filhas Mercy no piano, Estere voguing e Stella dançando em Don’t Tell me. Em alguns shows Lourdes e Rocco participaram de Vogue também.

Porém, o que mais me afetou foi a performance de Mother and Father. Ela e David Banda em cena, ele tocando e fazendo backing vocal para ela. As mães de ambos morreram quando eram crianças e estavam projetadas ao fundo. As relações tumultuadas com os pais também estavam no telão. Ao término da música eles se abraçam. É como se Madonna dissesse à ele: vivemos histórias parecidas nessa vida, mas eu serei pra você a mãe que eu nunca tive! Impossível não chorar ao entender essa relação que visivelmente é tão sincera entre eles!

I will survive é cantada no show! Apesar de ser conhecida como um hino LGBTQIA+ ela foi apresentada com toda a carga dramática de sua letra. Madonna dizia, antes de entoar a canção que só sobreviveu a morte (devido a uma infecção meses atrás) graças à seus filhos. Eu nunca curti ouvir I will survive em baladas, sempre me retirei da pista. A letra não é alegre, não é festiva, afinal é sobre seguir adiante apesar da dor e sofrimento. Madonna trouxe a interpretação que sempre esperei dessa música e nunca havia escutado.

Logo após, em Lisboa, ela cantou Sodade, de Cesária Évora, em homenagem ao país em agradecimento por tudo o que ali viveu enquanto morou em Lisboa.

O show começa a caminhar para final. Bedtime Story, Ray of light e Rain apenas mostram que Madonna está entregando aos fãs aquilo que sempre pedimos! Ela em seu estado máximo com as canções que tanto gostamos. E se Rain em sua letra é uma metáfora à ejaculação, ela está ali inundando a arena daquilo que mais desejamos: ela própria. Esse trecho é puro gozo!

Mas antes do fim, a projeção dela e Michael Jackson, ao som de Like a Virgin e Billie Jean surge repentinamente. Esse momento não foi, para mim, apenas uma singela homenagem ao cantor. Madonna está coroando ali, publicamente, os verdadeiros rei e rainha do pop de todos os tempos. Ela marcou seu território!

Dito isso, ela se afirma com Bitch I’m Madonna e finaliza o espetáculo com Celebration!

Ao olhar para o show percebemos que tudo está ali! Todas as referências estão postas! Seria impossível abarcar 40 anos de carreira em um show de duas horas, mas de alguma maneira elas aparecem, seja num pequeno trecho, ou numa imagem de telão.

Saio da Celebration Tour entendendo que o legado de Madonna é sobre o amor! Esteja com aqueles que você ama! Lute por eles! Valorize cada momento! A vida é breve e enquanto aqui estamos, celebremos juntos!

E que venha a próxima tour!

Vida longa a rainha!

 Ps. Algum defeito? Sim! Cadê o Tourbook? Hahahaha!



 


Nenhum comentário:

Postar um comentário